Um kibutz (hebraico: קיבוץ; plural: kibutzim: קיבוצים, "reunião" ou "juntos") é uma forma de colectividade comunitáriaisraelita. Apesar de existirem empresas comunais (ou cooperativas) noutros países, em nenhum outro as comunidades colectivas voluntárias desempenharam papel tão importante como o dos kibutzim em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu.
Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutzim são uma experiência única israelita e parte de um dos maiores movimentos comunais seculares na história. Os kibutzim foram fundados numa altura em que a lavoura individual não era prática. Forçados pela necessidade de vida comunal e inspirados por ideologia socialista, os membros do kibutz desenvolveram modo de vida em comunidade que atraiu interesse de todo o mundo. Enquanto que os kibutzim foram durante várias gerações comunidades utópicas, hoje eles são pouco diferentes das empresas capitalistas às quais supostamente seriam alternativa. Hoje, em alguns kibutzim há uma comunidade comunitária e são adicionalmente contratados trabalhadores que vivem fora da esfera comunitária e que recebem salários, como em qualquer empresacapitalista.
Os kibutzim forneceram a Israel uma parte desproporcionalmente importante dos seus líderes intelectuais, políticos e militares. Apesar de o movimento dos kibutzim nunca ter excedido 7% da população de Israel, ele poderá ter contribuído, como poucas instituições em Israel, para cunhar a identidade cultural do país.
Historicamente, com a colonização do Estado israelense, criado pela ONU em 1948, os kibutzim também exerceram importante papel estratégico militar quando dos primeiros conflitos árabes-israelenses, funcionando como verdadeiras bases avançadas, pois os colonos com treinamento militar e armas combateram exércitos inimigos até uma intervenção do Tzahal (exército israelense).
As condições de vida do Império Russo na virada do século XIX para o século XX eram ruins para todos os súditos, mas ainda piores para os judeus. Causar a emigração de um terço dos judeus, o batismo de outro terço e a morte por inanição do terço restante era um objetivo oficial do Império. Com a exceção de uma minoria de ricos, os judeus eram obrigados a viver na região fronteiriça chamada de cherta osedlosti (ou região de assentamento); e, mesmo dentro dessa, não podiam morar em cidades grandes como Kiev, ou tampouco em vilarejos com menos de 500 habitantes. Para aqueles que se aventuravam a chegar à capital Moscou, a polícia local estabeleceu recompensa para a captura de um judeu com valor equivalente à da captura de dois ladrões. (Dubrow, Vol III)
O número de judeus convocados para o exército do tzar era desproporcionalmente alto. Enquanto em outros países todos os militares eram tidos como dignos de honrarias, esses soldados judeus eram vítimas de profunda discriminação. Por exemplo, ainda que o serviço militar os levasse para longe da cherta osedlosti ou até mesmo para o extremo oriente russo, esses soldados eram obrigados a retornar para a região de assentamento quando em dispensa. Além disso, durante a Guerra Russo-Japonesa, vários juízes ucranianosaproveitaram-se da ausência dos soldados judeus para livrar-se de suas famílias, baseando-se em uma lei que permitia a expulsão de famílias judias sem um chefe-homem que lhes garantisse o sustento. Essa última agressão foi de fato tão extremada que o governo russo opôs-se a ela; mas os termos da reprimenda do general Vyacheslav Plehve a seus subordinados eram claramente discriminatórios: "as famílias dos judeus convocados devem ser deixadas onde estão até o fim da guerra." (Ibid.)
A ameaça aos judeus cresceu após a posse do tzar Alexandre III. O seu governo não só permitia, mas mesmo estimulava as agressões a seus vizinhos judeus por parte dos lavradores insatisfeitos. As chamadas Leis de Maio, promulgadas pelo imperador em maio de 1882, proibiram a moradia de judeus em cidades com menos de 10.000 habitantes — expulsando várias famílias que há várias gerações viviam no mesmo lugar — e estabeleceram cotas que impediram o acesso de elevado número de judeus a universidades e profissões. Era portanto especialmente forte a repressão aos judeus na Rússia da virada do século XIX.
As reações dos judeus a essas dificuldades foram variadas. Alguns optaram por envolver-se na luta pelo socialismo no país; outros decidiram emigrar para o ocidente. Houve judeus que, mantendo-se ortodoxos, ignoraram os problemas à sua volta, enquanto outros buscaram ser assimilados pela sociedade russa. Ainda outros judeus — os de maior interesse para o nosso tema — tornaram-se partidários do sionismo, cuja ideia central era construir uma nação judaica na terra em que o judaísmo nasceu: a Palestina (ou Eretz Israel).
Até então, os judeus que migravam para a Palestina o faziam ou em idade avançada para lá morrer, ou ainda jovens para frequentar as yeshivás ao redor de Jerusalém e Heron. Nos dois casos, o motivo da migração era religioso, e não social ou político, e esses indivíduos, que não se sustentavam do próprio trabalho, viviam de doações de judeus de outras paragens.
Já o movimento sionista — não obstante suas profundas raízes na história judaica — só passou a ser uma força significativa por volta da década de 1880. Nela, 15.000 famílias oriundas principalmente do sul da Rússia mudaram-se para a Palestina com a intenção de lá viver — e não apenas morrer — e de trabalhar com a lavoura, ao invés de estudar. Essa primeira leva de judeus dispostos a viver uma vida normal na Palestina recebeu o nome de "Primeira Aliá", e seus membros foram chamados de "Biluim".
Neste ponto é importante observar que o trabalho na terra é componente importante do sionismo. É bastante difundida a ideia de que esse era um movimento de cunho nacionalista. Deve-se notar, no entanto, que sua componente econômica pregava o retorno ao cultivo da terra como principal ocupação dos judeus, substituindo assim as ocupações típicas dos judeus europeus: possuir pensões e lojas de penhora, praticar "comércio pequeno", etc.
De fato, a geração da Primeira Aliá acreditava que a decadência dos judeus da Diáspora era explicada pela aversão desses ao trabalho físico. Eles não só defendiam que do cultivo da terra palestina adviria a redenção física e espiritual do povo judeu, como chegavam a acreditar que o solo da Palestina tinha o poder mágico de transformar os fracos comerciantes judeus em lavradores nobres e fortes. Uma manifestação dessa crença pode ser vista na edição de 1883 de The London Jewish Chronicle: "os pálidos e curvados comerciantes judeus de alguns meses atrás" tornaram-se "lavradores bronzeados, de mãos calejadas e másculos" (Silver-Brody, 33,36).
Em espírito semelhante ao da "religião do trabalho" exposto acima, o manifesto dos Biluim proclamava orgulhosamente a intenção de "encorajar e fortalecer a imigração e colonização de Eretz Yisrael através da criação de uma colônia agrícola, de base cooperativa social". Afinados com a ideologia sionista (que até então ainda não havia recebido esse nome), os Biluim também exortavam o povo judeu ao renascimento sócio-político, espiritual e nacional na Palestina.
A esperança dos Biluim de sucesso na lavoura era grande, mas seu entusiasmo era maior do que sua habilidade agrícola. Em apenas um ano os Biluim já eram dependentes de caridade como os estudantes que os precederam. Mas os Biluim investiam o dinheiro recebido em terras e equipamentos, e as doações — vindas tanto de judeus riquíssimos como o Barão de Rotschild quanto dos "normais" leitores do The London Jewish Chronicle — permitiram que prosperassem. Suas cidades, Rishon LeZion e Zihron Yaakov, tornaram-se comunidades saudáveis e atraentes. A vitória foi concomitante ao fato de que já na virada do século XIX os imigrantes empregavam árabes em suas terras, ao invés de trabalhá-las eles mesmos (como inicialmente pretendiam). A revolução econômica sionista ainda estava por vir.